1 de outubro de 2009

2ª Visão

Estando já neste blog há 3 anos, confesso que sempre tive vontade de escrever sobre Basket. Mas tal vontade era acompanhada sempre por um enorme "receio" em escrever sobre o tema por achar que não conseguiria ser imparcial (qualidade a que sempre me exigi).


Para contornar a questão da imparcialidade, decidi mostrar-vos apenas a minha visão acerca deste tema.


Estando inserido neste meio há cerca de 10 anos (primeiro como jogador e agora como treinador), é-me difícil associar a palavra Basket a um simples desporto. Considero-a antes como uma "segunda casa" onde já fui feliz, onde já chorei; onde ganhei e perdi; onde me realizei e onde tive frustrações; mas acima de tudo onde (também) aprendi a ser Homem.


Acredito que ter estado "dos dois lados" me dá uma visão privilegiada acerca de um grupo de basket. Se por um lado conheço e senti na pele os desejos, as ambições, as insatisfações, as dificuldades que se tem enquanto jogador, agora também conheço as dúvidas, o medo da injustiça, os objectivos dos treinadores.


Ao contrário de outros desportos colectivos, onde os "grupos de trabalho" são bastante grandes, acredito que o essencial do Basket é o espírito de grupo que se pode conseguir criar. Num jogo de 5x5 muitas vezes ganha a vontade e não a técnica ou a táctica por melhores que sejam. Afinal, sendo o Basket um jogo tão atlético, é fácil perceber que se um jogador quiser dar tudo em campo pela sua equipa, essa vontade vai ajudá-lo a ganhar mais posses de bola (seja em ressaltos, seja em boa defesa) e este é meio caminho andado para a vitória.


Como jogador pude encontrar treinadores bons, assim-assim e maus. Com todos eles pude crescer, porque se com os bons aprendia a ser melhor jogador, com os maus aprendia a ser mais resistente às adversidades, aprendia a não desistir. Mas com todos aprendi uma coisa essencial: a ser fiel ao "comandante do barco", pois eles estavam lá para nos guiar, quer fosse por caminhos com que eu concordasse ou não, afinal eles sabiam mais do que eu.


Quando comecei como treinador impus uma condição a mim próprio: nunca sobrepor o desejo de vitória aos meus princípios, ou seja, nunca querer ganhar "a todo o custo". Senão, qual a piada de ganhar um jogo sem cumprir as regras? Qual a piada de ganhar um jogo se "não se ganha uma equipa"? Não será preferível tentar ajudar os jogadores a crescer (como atletas que são mas essencialmente como homens) do que querer vitórias a qualquer custo? Acredito que se esse crescimento se fizer de forma correcta, o primeiro jogo poderá não ser uma vitória, mas na continuidade do crescimento, a palavra derrota irá desaparecer.


E se como jogador era óptimo fazer cestos, ganhar ressaltos, fazer "contras", como treinador é tão bom ou melhor poder ajudar gerações mais novas a superarem-se, a realizarem-se dentro e fora do campo. Não deixará qualquer treinador realizado, ensinar uma equipa as regras do jogo, as técnicas do jogo e mais tarde vê-los a vencer? Não deixará qualquer treinador realizado ver um jogador tecnicamente evoluído, conseguir superar-se depois de um conselho, depois de uma maior exigência?


E não terá um treinador a sua verdadeira vitória quando, um "seu" jogador mais baixo, ganha ressaltos no meio das "torres"? Não terá um treinador a sua vitória quando, um "seu" jogador muito bom tecnicamente, decide aliar a vontade, a "raça", à qualidade técnica?


Para mim, sim. E acredito que quando estes objectivos são atingidos, se estão a criar não só bons jogadores como (e mais importante) grandes homens!
Dc


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